domingo, 2 de março de 2008

[a convite] goran bregović

Guimaraes Guimarães Braga Vizela Porto Famalicão Famalicao Barcelos Blog Blogue Ocio Ócio Cultura Urbano Urbana Zine Magazine Artes Plásticas Plasticas Musica Música Tendências Tendencias Guia Spicka Spika Spica Berço Ana Concertos Concerto Blitz Fotografia Cinema Arquitectura Arte CCVF Vila Flor Cultural Theatro Circo Casa Artes São Mamede Capital Europeia da Cultura 2012
Goran Bregovic © Direitos Reservados

O concerto abriu com apenas duas cantoras búlgaras, trajadas a rigor, de mão dada e sozinhas em palco. Entretanto, para espanto geral, os músicos de instrumentos de sopro, iam surgindo, um por um, entre o público. A sala que estava repleta, foi obrigada a virar-se de costas para o palco, assistindo a ritmos desconcertantes que esses músicos produziam enquanto caminhavam pelo público. É que eles estavam bem-dispostos, alegres, mas tocavam melodias belas, muito tristes, puramente fúnebres. Subiram ao palco e de seguida chegou o percussionista para os acompanhar na entrada fúnebre. O último a aparecer foi o brilhantíssimo Goran Bregovic. Já com os 10 músicos em palco, soltaram a primeira bomba de adrenalina que imediatamente conquistou o público. Era um ritmo fortíssimo, obrigatório de se dançar, algo que quem conhece de Bregovic vê que é mesmo assim, quase um exorcismo. Dezenas de pessoas saltaram das suas cadeiras e foram a correr para junto do palco. Por lá ficaram a dançar, quase que hipnotizados, até ao final do concerto. Bregovic e o percussionista, que ocupavam a parte central do palco, mantiveram um sorriso contínuo durante todo o concerto. Eles riam-se porque estavam a desfrutar em pleno, porque estavam entregues à música mas também ao público. E aqueles sorrisos pareciam também de alguém que tem consciência que está a fornecer uma droga, tipo o taberneiro que serve ao bêbado uma malga de vinho, em que apenas falta a gota que a fará transbordar. Eles sabiam desde o início que conseguíam levar a sala à loucura, eles sabiam que não ia haver uma única pessoa a ficar sentada, sem dançar. O alinhamento foi equilibradíssimo, alternando entre a festa que nos obrigava a dançar e os ritmos fúnebres, melodias que falam a linguagem da alma e atropelam o espírito. Hinos como In the death car e Mesecina não foram esquecidos e esta última fez, com toda a certeza, com que as fundações do magnífico Grande Auditório do Vila Flor fossem estremecidas. Os músicos conseguiram, garantidamente, esmagar o público. Para fechar o espectáculo, e depois de insistentes pedidos da palteia, Bregovic lançou um feitiço chamado Kalashnikov. Ele mesmo explicou que no seu país há muitas guerras e que morre demasiada gente inocente. A música, disse ao público [porque há músicas que falam] que apesar de martirizado, o povo dos Balcãs, faz desse cenário de guerra uma festa, vivem as suas vidas em celebração, conscientes que só vivem uma vez. Kalashnikov foi a prova da possessão geral entre o público. Dançámos, saltámos, cantámos, tal como alguns dos músicos, enquanto Bregovic cantava, com o seu copo de whisky na mão, consciente do vírus que espalhara naquela multidão. Absolutamente inesquecível. Brilhante.

Por Francisco Rodrigues, a convite do Ócio. Francisco Rodrigues é autor do blogue Mesa da Ciência e já escreveu A Convite do Ócio um artigo sobre As Catacumbas de Edimburgo.

Sem comentários: